domingo, 13 de janeiro de 2013


O Historicismo



      O Historicismo é uma nova concepção de ciência social e do conhecimento social. Frequentemente a percepção que se tem do debate na ciência social é do confronto entre positivismo e o marxismo, que são duas correntes importantes, mas é um erro ignorar a existência de uma terceira corrente, que é o historicismo.
      Esta é uma corrente específica, que não é idêntica nem ao positivismo, nem ao marxismo, embora possa se articular entre ambas. Encontramos formas de ciências sociais que são de vertente, ao mesmo tempo, positivista e historicista, como é o caso de Max Weber, e vamos encontrar também um marxismo historicista.
      O historicismo é também uma das correntes mais importantes na teoria do conhecimento social, na ciência social, na sociologia do conhecimento em particular, posto que Karl Mannheim é o fundador da sociologia do conhecimento como disciplina científica, sendo ele próprio um representante do historicismo.
      O historicismo parte de três hipóteses fundamentais:
I. qualquer fenômeno social, cultural ou político é histórico e só pode ser compreendido dentro da história;
II. existe uma diferença fundamental entre os fatos históricos ou sociais e os fatos naturais;
III. tanto o objeto quanto o sujeito da pesquisa estão imerso no processo histórico. (FERRARI)
         Ou seja, ninguém está de fora da história, estamos todos dentro dela.
      Quando o historicismo surgiu, fim do século XVIII e começo do XIX, ele tinha um caráter conservador. Tinha como objetivo defender as instituições econômicas, sociais e políticas da sociedade tradicional, dizendo que essas instituições eram produtos do processo histórico e que a tentativa de aboli-las seria anti-histórica e que os levaria ao caos.
      Devido a isso o historicismo, conservador, condena as revoluções e também o capitalismo. Ambos, novos e opostos as instituições acima citadas. Assim sendo contrários ao desenvolvimento histórico, segundo o historicismo conservador, e que poderia conduzir a catástrofe.
      Esse primeiro historicismo tem forma conservadora, voltada para o passado e para a justificação de instituições - como as econômicas, sociais e políticas.
      Porém ele também traz consigo a visão histórica, tanto que a ciência histórica moderna começa com o historicismo alemão e é nesse momento em que aparecem os primeiros grandes historiadores.
      Em um primeiro momento a objetividade não incomoda muito os cientistas sociais. Somente no fim do século XIX ela começa a ser vista como um problema. Nesse momento alguns historiadores colocam esses problemas - da objetividade - principalmente Droysen, que foi um dos primeiros a colocar a perspectiva relativista em um de seus textos.
      Para Droysen a ciência histórica não poderia ser completamente objetiva ele coloca um nome nisso "objetividade de eunucos". Ele considerava que o historiador verdadeiro não é neutro.
      "Eu não aspiro atingir nada mais, nada menos, do que a verdade relativa ao meu ponto de vista, tal com ele resulta de minha pátria, de minhas convicções políticas e religiosas e do meu estudo sério."
      Porém esse método só leva a resultados parciais e unilaterais.
      "Devemos ter a coragem de reconhecer esta limitação e nos consolarmos com o fato de que o limitado e o particular são mais ricos do que o comum e geral."
      É nessa época em que as antigas instituições e os valores tradicionais começam a mudar. O estilo capitalista-industrial e cientifico técnico surgem como valores novos. E é nesse momento de transição que o historicismo perde seu conservadorismo e se torna mais relativista.
      Outro representante é WilhelmDilthey. Uma de suas primeiras contribuições foi o empenho na distinção entre as ciências naturais e sociais.
      Para ele nas ciências sociais a pessoa está estudando a si mesma - "Em certa medida, é o homem como ser cultural que estuda sua própria cultura" (LÖWY) - existe afinidade entre o sujeito e o objeto estudado. Enquanto nas ciências naturais o individuo estuda um objeto a ele exterior.
      Ele chega a conclusão de que as ciências sociais tem prazo de validade, ou seja, tem "validez historicamente limitada" (LÖWY).
      "A história do mundo, como um tribunal do mundo, revela cada sistema teórico como relativo, passageiro, transitório, apesar de sua vã pretensão à validez objetiva. A história é um imenso campo de ruinas, de tradições religiosas, de afirmações metafísicas, de sistemas teóricos, de obras científicas, e cada um desses sistemas exclui o outro, nenhum consegue se provar definitivamente." Ele chama isso de " a anarquia dos sistemas teóricos".
      Dilthey considera que cada visão de mundo, teorias, obras científicas tem um valor de conhecimento, mas esse valor é historicamente condicionado, limitado e relativo; ou seja, todo conhecimento sobre a sociedade, sobre a história é relativo a uma situação histórica determinada. Cada um é verdadeiro, mas também é unilateral (só toma uma dimensão da realidade).
      Dilthey se dá conta de que as ciências sociais possuem uma profunda contradição. Por um lado, ela aspira ao conhecimento objetivo, válido; mas por outro lado, cada obra é vinculada a uma visão de mundo, uma visão limitada, unilateral; impondo, assim, certos limites ao conhecimento.
      Dilthey percebeu o perigo do relativismo total, porque ele conduz ao ceticismo; ou seja, já que todo mundo tem uma parte da verdade (cada pessoa possui a sua verdade e a sua mentira) faz-se uma mistura e com isso se chega a verdade. Dilthey se recusa a este ceticismo, mas também não tem uma resposta para o problema.
      Simmel foi o principal aluno de Dilthey, que fez críticas ao positivismo. Entre elas a de que a ciência pode ser representada tal qual ela é, o que para ele não é verdade pois a ciência é um produto social.
      Entretanto a sua busca para resolver o relativismo foi a de que pegar todos os pontos de vista, os unir e fazer uma síntese.
      Simmel tem uma desvantagem grande em relação a Dilthey, para ele a solução para o relativismo é exatamente os diversos pontos de vista, ou seja, o ceticismo, o conhecimento parcial e subjetivo.
      Porém existem duas críticas a cerca do ecletismo:
* a razão que Max Weber põe: "as soluções intermediária não são em nada mais objetivas que as soluções extremas [...], não há razão alguma para considerar a solução intermediária, eclética, que faz a média entre os extremos, como mais objetiva que as soluções extremas."
* e a outra que em soluções intermediárias as possibilidades são infinitas. Dessa forma voltamos ao ponto de partida em que existirão diversas visões cada uma delas dizendo que é objetiva e verdadeira.
      Karl Mannheim é um pensador húngaro, de cultura alemã, que foi muito influenciado por Lukács. Lukács foi ministro da Cultura e nomeou Karl Mannheim catédrático de filosofia da universidade. Essa nomeação só durou três meses, quando a contra-revolução triunfou e eles tiveram que fugir. Com isso, Lukács foi para Viena e Mannheim foi para a Alemanha. Mannheim foi aluno de Simmel. 
      Em seus primeiros artigos, Mannheim cita dois conceitos importantes:
1. Conceito de Standortsgebundenheit
2. Conceito de Seinsgebundenheit
      Ambos os conceitos são traduzidos erradamente como "determinação social"; numa melhor tradução quer dizer "dependência em relação à posição social". Deste modo, ele quis dizer que toda a forma de pensamento ou de conhecimento está vinculada ou depende de uma posição social determinada, ou de um ser social determinado.
      Mannheim dá um avanço enorme ao historicismo que é o conceito de classe, que até então não aparecia. Ele afirma que o conhecimento não é só historicamente relativo, mas é também socialmente relativo, em relação a certos interesses, a certas posições, a certas condições do ser social, particularmente das classes sociais.
      Mannheim afirma o relativismo como um caminho necessário para chegar a qualquer teoria social do conhecimento. Ele busca o máximo de relativização, para depois colher todos os pontos de vista e tentar fazer uma síntese. 
      Partindo de Marx Lukács, Mannheim vai formular o conceito de ideologia total, que é uma certa estrutura de consciência ou um certo estilo de pensamento, socialmente condicionado.
      Essa ideologia total, ou visão total de mundo ou estrutura da consciência, ou estilo de pensamento, tudo isso determina o processo de conhecimento, porque determina a problemática, a orientação da pesquisa, a análise e a teoria. Porém há muitas contradições em Mannheim, para ele essa ideologia total não é só fonte de ignorância, obscuridade, cegueira, falsificação, mas é também fonte de conhecimento, de lucidez.
      A fórmula de Mannheim é que o dever do intelectual não é só o de se transformar em porta-voz de tal ou qual classe social, mas de tomar consciência de sua própria missão, de sua "predestinação a tornar-se o advogado dos interesses espirituais do conjunto da sociedade". No entanto, não fica claro quem são esses intelectuais, o que gera inúmeras polêmicas contra esta tese.
      Tanto o positivismo, quanto o historicismo, como o marxismo, partem da hipótese de que existe uma realidade social, uma realidade histórica; só que para o historicismo e o marxismo, existe uma relação dialética entre o sujeito e o objeto do conhecimento, não existe uma separação total como no positivismo.
      A distinção entre ciências naturais e ciências sociais é fundamental, mas não é absoluta. Entre as ciências naturais e as ciências sociais, há um terreno intermediário, não se pode fazer um corte entre ciências naturais e ciências sociais, mas a distinção existe. 
      No campo científico natural existe todo um espaço que é politicamente, ideologicamente e socialmente condicionado. Neste sentido, falar em ciência neutra é uma ilusão. Toda e qualquer observação de fatos não é desprovida de valores, e a própria escolha do objeto de pesquisa depende de preferências pessoais do pesquisador. Pesquisas científicas são financiadas por pessoas ou instituições com interesses políticos.
      A fragilidade do historicismo e do historicismo relativista é de não perceber a relação entre essa limitação histórica do conhecimento e as classes sociais; o problema de classes está ausente no historicismo relativista de Droysen e quando ele aparece, no caso de Mannheim, aparece de maneira muito discutível.

Bibliografia

FERRARI, Pedro. Ideologia e Ciência Social analisadas sobre as três grandes correntes de pensamento: Positivismo, Historicismo e Marxismo In:http://www.feati.com.br/revista/volumes/4/Professores/MARXISM1-Pedro.pdf, acessado em 12 de janeiro de 2013
SILVA, José Alexandre da. Ideologias e Ciência Social, uma reflexão atual. In:http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/41e/res01_41e.pdf, acessado em 12 de janeiro de 2013.
LÖWY, Michael. Ideologias e Ciência Social: Elementos para uma Analise Marxista. São Paulo, 1991 7ª edição

Um comentário:

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